"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quinta-feira, outubro 01, 2015

Exposição da Obra de Jorge Rua de Carvalho na Junta de Freguesia da Estrela: Um Património Etnográfico sobre Jogos Tradicionais e Pregões de Lisboa

Em 23 de Setembro de 2006 partilhei neste blogue o texto do qual transcrevo excertos:

"É para mim um extraordinário privilégio apresentar Jorge Rua de Carvalho, este ser multifacetado cujo percurso comecei a seguir de perto há doze anos (...)este autor com quem convivi na I Festa das Colectividades, na Arruda dos Vinhos e Alpedrinha, quando nessas terras representou os Pregões de Lisboa, e nesta última tive o prazer de estar ao seu lado dizendo poemas, nomeadamente na Capela do Leão, onde o Jorge foi inexcedível e arrebatou a plateia que o aplaudiu de pé.
Acompanhei Jorge Rua de Carvalho nas suas exposições por escolas, associações e bibliotecas.
Escutei com atenção o testemunho da sua experiência, tive a honra de representar ao seu lado e escrevinhei uns textos para sketchs que ele apurou.
Um homem assim é da nossa família.
Por isso, queremos que viva muito, porque com ele aprendemos sempre!

Jorge Rua de Carvalho é um herói.
Fez do quotidiano um espaço mágico de convivência, vencendo a doença e a solidão, que costumam ensombrar a existência dos mais velhos.
Jorge rejuvenesceu nas páginas onde revisita a infância.
Respirou o oxigénio das palavras, para enfrentar os sobressaltos da vida.
E não pára de sonhar!
Solidário, fundou a “Aldraba” e aceitou o desafio de escrever um novo livro para partilhar as suas memórias do Associativismo.
Tenho-o seguido nos últimos tempos pelas ruas de Lisboa, nos miradouros e eléctricos, percebendo o quanto a cidade significa num imaginário que repovoou de saloios e pregões.
Para lá das sílabas, escreveu poesia na madeira, produzindo uma exposição magnífica sobre pregões que sucedeu a uma primeira, idealizada para imortalizar as recordações das brincadeiras da infância.
No fim de semana de 7 e 8 de Outubro, Jorge Rua de Carvalho irá ao Festival do Chícharo, em Alvaiázere, para apresentar as duas centenas de bonecos que criou com carinho de pai.
Como Geppetto idealizou dar forma à madeira, esculpindo figuras às quais se afeiçoou de tal maneira que me parece fazer todo o sentido criar um Museu com estes trabalhos que contam a história da cidade dos humildes e laboriosos, da criatividade dos simples.
Todavia, ao contrário de Pinóquio, os bonecos de Jorge Rua de Carvalho falam a linguagem da verdade. São património e identidade. Espelhos da memória que iluminam o silêncio.

(...)Jorge Rua conseguiu escrever juntando os fragmentos da memória e do esquecimento, onde procura o rigor dos factos e cenários, embora nesse esforço de reconstituição dos acontecimentos, o factor efabulação acabe por condimentar os diversos takes do enredo, moldando as falésias da memória com a sedimentação das vagas e ventos do olvido para citar Marc Augé. (...) Este homem é o resultado do que podemos ser quando sonhamos. Cada livro seu é um capítulo do romance da sua existência fantástica.Jorge Pássaro, Jorge Sempre Menino, Jorge Amigo, Jorge Irmão, Jorge Eterno.
Prometo-te que viverás para lá da vida, no nosso coração, na nossa memória, nos nossos textos, no amor fraterno que dedicamos aos nossos Maiores.
Obrigado por tudo o que continuas a dar-nos, com tanta qualidade e carinho.
Bem Hajas pelo exemplo da tua Vida!"

Inaugurou-se hoje uma Exposição com a Obra de Jorge Rua de Carvalho, na Junta de Freguesia da Estrela, Rua do Quelhas.
Saúdo Rosário Baptista e Nádia Nogueira e o Presidente da Autarquia, por terem dado nova vida a um espólio etnográfico de grande valia.
São duzentos bonecos, representando as Brincadeiras de Rua (Anos 20-30) e os Pregões de Lisboa, constituindo um magnífico património, acerca de um tempo evaporado. 
Presentes na inauguração, que incluiu animação em torno dos Pregões, uma das filhas e duas netas. 
A mostra vai manter-se até ao final do mês. 
Recomendo visita atenta, aos que gostam de saber mais sobre Lisboa Antiga, àqueles que estudam os Jogos Tradicionais, a quem enfim entende que o Associativismo é uma forma de estar e não um penacho.

Luís Filipe Maçarico (palavras e algumas imagens) António Brito (fotografia de Jorge Rua de Carvalho)

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