"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quarta-feira, outubro 30, 2013

Sessenta e Um Anos







É o Outono que espreita
no frio súbito, a chuva
deu lugar ao sol de Outubro.

Gostava de viver num país
de eterna Primavera onde
os amigos chegassem, inesperados
como papoilas matinais
 
aquecendo o coração.

Para brindarmos à Vida.

Nasci para este tempo
Suporto o vento, ao vosso lado.
E sonho que é Abril
ainda...

 

29-10-1952, sessenta e um anos depois...



Luís Filipe Maçarico

quarta-feira, outubro 23, 2013

Menoridade

 

Aos Amigos António Prata e Jorge Cabral

Que povo é este, que papagueia o que as senhoras Isabéis Jonets, os Passos e os Portas repetiram / impingiram, vezes sem conta?

Durante longos meses, escutámos o que esses "devoristas" (para empregar um termo, utilizado hoje por Santana Castilho, na sua crónica do Público), bolsaram, dia após dia, culpando o mesmo povo, que os elegeu - e que dentro do seu universo acrítico e conformista, aceitou, como verdade, tal mentira...

Para ajudar a manter essas pessoas, impávidas e dormentes, existe aliás um séquito de comentadores, que invadem o seu quotidiano, "interpretando" a actualidade, opinando, como se a política da governança fosse um mal irremediável, injectando as suas reflexões impositivas, que são tudo, menos independentes.

Deste mal estar inculcado, terá nascido certamente a triste frase, dita e redita, até à exaustão, "Viver um dia de cada vez"...

Quando era jovem, jamais escutei tal "máxima", digna de uma historieta sem moral, de ratos assustados e não de gente que tem filhos, projectos e sonhos.

Se os que nos antecederam, avós e pais, pensassem desta maneira assustada, não estávamos neste mundo, certamente. E o tempo deles terá sido bem pior que o nosso...

Quando será que esta parte de pequenez, menoridade e medo, de falta de amor-próprio e ausência de ambição, será substituída pelo prazer de Ser?
Quando será que o povo fecha a televisão, recusando seguir os ditâmes dos politiqueiros de meia tijela, que enxameiam o écran?
Quando será  que a reverência termina e os que prejudicam a Comunidade ficam só com os votos da família e dos comensais?
O que é preciso acontecer mais para o Povo acordar?

LFM (texto e foto)

A Realidade

"Tudo o que temíamos acerca do comunismo - que perderíamos as nossas casas e poupanças e nos obrigariam a trabalhar eternamente por escassos salários e sem ter voz no sistema - converteu-se em realidade sob o capitalismo"

Jeff Sparrow

Esta frase, retirada da página Facebookiana de Michèle Boulier Faro, exprime bem a pertinência dos que recusam a prepotência actual dos Governos, cuja globalização ofensiva empobrece, cada vez mais, aqueles que possuem escassos recursos, decorrentes dos proventos do seu trabalho, esmagando os mais fracos, como é o caso dos idosos.

Nascido em 1969 em Melbourne, Austrália, o escritor Jeff Sparrow é um activista dos direitos humanos.
Eu não diria melhor!
LFM (texto e foto)


terça-feira, outubro 01, 2013

Rua Prior do Crato ou quando a cidade despreza os seus velhos




A rua Prior do Crato, na cidade de Lisboa, definha, em termos de comércio, desde que a Troika entrou em Portugal.
Tal como a Rua dos Fanqueiros. Tal como as ruas do Couço, ou de muitas localidades do interior.

Hoje soube que a Farmácia Bairrão, - onde desde pequenino encontrei os remédios mais eficazes, para as maleitas de seis décadas, - vai encerrar.
Sucedeu o mesmo com outras marcas, como foi o caso da centenária tipografia Liberty ou da loja Singer, que pouco a pouco fecharam, dando lugar a surtos de cabeleireiros e compra de ouro.

Chineses, nepalenses e paquistaneses, apareceram nesta rua, sucedendo a estabelecimentos de comércio tradicional.

Há meses atrás, perto desta artéria, fechou, sem aviso prévio, a estação dos CTT das Necessidades, muito frequentada, face à proximidade do Ministério dos Negócios Estrangeiros...
Pobres idosos, sem CTT para levantarem a pensão e se farmácia para aviarem os medicamentos.
Agora tem de se andar sete paragens de autocarro (773) para tratar dos assuntos que só podemos tratar numa estação dos CTT...Quanto às farmácias alternativas, às quais se recorria, em dias de folga da Bairrão, começam a ficar diariamente distantes...

Já agora, venham à Rua Prior do Crato (freguesia de Prazeres) fazer uma visita turístico-bizarra e constatem como todos os dias os idosos caiem... eu próprio já torci os dois pés e tive de andar um ano na fisioterapia. 
Motivo: acabaram com os calceteiros municipais e agora empresas "especializadas" - cujos funcionários são cabo - verdianos e ucranianos, mão de obra barata e sem experiência, - têm a incumbência de reparar os buracos. 
Em vez de aplanarem o piso, compõem o espaço à maneira deles e ficam conchas, declives, abismos calcetados. 

Tenho medo de andar na rua, também quando não chove há muito tempo, pois o passeio fica polido e as quedas são também uma evidência. Aconteceu-me há semanas, felizmente sem consequências...

Os passeios artísticos, que alguns autarcas, de cú tremido, quando saiem dos gabinetes, tanto enaltecem, são muito bonitos, para aparecerem em postais ilustrados ou em livros, para oferta de prestígio, fotografados de preferência durante uma viagem aérea...ou seja, distantes, como convém...

Lisboa já não é lugar para se viver com alegria...nem sítio recomendável para velhos!


Luís Filipe Maçarico